Quem corre por gosto também cansa!
O tema que me faz voltar à escrita é de relevância mundial, talvez mesmo planetária e, por incrível que pareça, raramente lhe é dado destaque. Falo-vos de verdadeiros maratonistas, corredores olímpicos dignos de medalhas com direito a audição do hino nacional com uma mão no peito e outra na máscara de oxigénio... os trabalhadores-estudantes. Sim! Esses seres sobrenaturais capazes de esforços inigualáveis. Aqueles que conciliam a faculdade, trabalho, família, gestão da casa, contabilidade mensal, animais de estimação e mais um par de coisas que entretanto se juntam à mistura, porque isto de fazer coisa pouca não lhes assiste.
Aqueles que na cabeça de alguns acéfalos são beneficiados porque são detentores de um estatuto cujo cumprimento é mais raro que os milagres da virgem Maria.
É gente que luta por uma vida melhor com o peso da vida às costas... e se houver estágios lá pelo meio, aí então é que a coisa se torna ainda mais bonita. Um minuto de silêncio para os desgraçados que trabalham e estudam enfermagem. É penoso, digo-vos por experiência própria.
Seria legítimo argumentarem que este sofrimento auto-inflingido é uma escolha. De facto é... mas para quem não tem outra alternativa (leia-se, pais com capacidade económica para suportar as despesas não tão diminutas que a vida académica acarreta), este tormento torna-se inevitável.
Mas calma lá que não somos coitadinhos nem melhor que aqueles que estudam a tempo inteiro. Somos apenas gente cuja luta se torna mais árdua, mais suada mas com um sabor que os outros nunca sentirão. Sai-nos da pele, dos ossos, das pernas inchadas, das dores de cabeça e do stress diário para conseguir chegar a tempo a todo o lado e tentar fazer o melhor. Polivalência e optimização de tempo são qualidades que subitamente temos de adubar na nossa vida.
E sorte de quem tem o referido estatuto e que, por vezes, até consegue ter uma entidade patronal que compreende que as pessoas têm o direito de querer estudar, seja em que idade for, uma vez que aquilo que se verifica com demasiada frequência é o completo desrespeito deste estatuto, tanto pelos queridos patrões como pela própria faculdade. Muitos estão-se a marimbar se tens estatuto ou não. Tens de trabalhar no horário estabelecido senão vais para o olho da rua. Depois tens a faculdade, onde a pressão é quase igual, com a diferença desse olho sair-te caro e teres de pagar quase 1000€ de propinas para interpretarem o desejado estatuto conforme lhes apetece e colocarem-te entre a espada e a parede para que aceites horários de aulas e estágios que colidem com o teu horário laboral.
E aqueles que nem estatuto possuem por trabalharem a recibos verdes ou nuns “extras” mais fáceis de conciliar com as aulas e estágios? São explorados por gente mais faminta que uma família de abutres e veem-se gregos para terminar o curso.
É difícil, é injusto e leva-nos às lágrimas vezes sem conta ao longo do caminho. Mas nem tudo é consternação. Felizmente vão surgindo seres humanos pelo caminho, no verdadeiro sentido da palavra. Gente que compreende, apoia e percebe que cada ser é uma história. Não beneficiam, simplesmente demonstram empatia... aquilo que mais falta no mundo.
A todos esses, raros mas preciosos, a maior gratidão não chega. Sejam felizes... e empáticos!